segunda-feira, 23 de agosto de 2010

"Let them eat cake."


Maria Antonieta foi uma das primeiras vítima da "má" publicidade.
Assim como a famosa frase que abre esse post, os exageros dos boatos sobre a rainha ajudaram a trazer sua decadência. Desenhos eram publicados com seu rosto e distribuídos nas ruas, com frases que supostamente teriam saído da sua boca. Para os plebeus, aquela maldita boca enfeitada com o melhor batom, aquele cabelo armado onde poderia existir duas Franças dentro, ou o volume de seus vestidos onde mesmo assim, só tinha espaço pra uma Maria.
A verdade é que, sim, Maria foi uma vítima. Do seu destino.
Aos 15 tirada de casa, de seu país. Aos 16 casada com um homem que nunca vira. Francês. E agora deveria esquecer todos seus costumes e ser uma rainha francesa.
Seu dever? Ser uma boa rainha. O que significa, parir um filho à todo custo. A consequência de tanta pressão, tanta "escravidão da realeza", a falta de escolhas, de caminhos, sim, também a levou a decadência. Ao gasto, ás dívidas reais. Por isso, digo, Maria, ou Antonieta, foi uma vítima da sociedade, e do que foi imposto desde cedo a mesma.
Ver o "Maria Antonieta" de Sofia Coppola pela segunda vez me fez bem.
Primeira vez que assisti o filme achei o roteiro vago, sem graça, mas claro, fiquei encantada por todo o visual.
Na segunda, percebi de que se tratava um pouquinho mais. Todo o filme é visto pelos olhos jovens dela, Maria.
Suas apreensões, suas desilusões, seus impulsos. Seus instantes. O filme é feito de instantes. É o olhar pela janela, o sapato novo que a encanta, as flores de seu jardim, o pôr e o nascer do sol.
De pouco a pouco, conhecemos um pouco mais da rainha.
A estética jovial do filme nos aproxima, nos faz sentir que podemos estar lá. Dentro daquele filme, dentro daquela época. Não nos distancia, como muitos filmes de época.
Assim como a trilha sonora. Muitas músicas de bandas dos anos 80, como New Order, Siousxie, influenciaram o figurino, a personalidade dos personagens. Trazer os anos 80 para o século 18 é algo memorável. A ousadia não tem tempo.
O uso de cores fortes como magenta, rosa, verde forte, desequilibram o ambiente, escolha de Sofia, pois, na época essas cores não eram usadas assim.
Essa ousadia é vista no figurino vermelho da "Duquesa Falsa" Du Barry, nos doces e bolos, nos sapatos, e até, ousando um pouco mais, no All Star roxo visto num segundinho do filme.
Vemos muitas, muitas cores fortes. O desequilibrio, o exagero da realeza impresso ali, em cores.
O clima criado na Fotografia do filme na parte "três" do filme, pra mim, é a que eu mais me identifico.
A partir do momento em que Maria encontra o Soldado Fersen pela segunda vez, e se apaixona, e logo em seguida, o perde, a câmera é na mão. Os movimentos são suaves, ociosos.
A natureza é vista mais, são as plantas, as abelhas, a naturalidade da filha da rainha nessas cenas, acredito que todas as cenas ali, foram 100% improvisadas. A beleza do improviso.
Sentimos o Naturalismo no meio de um ambiente superficial, que é o mundo da realeza.

O mais bonito é ver a insegurança de Sofia Coppola, muitas vezes, ao descrever seu filme.
Ela diz :
"Fui sincera, fiz o que pude."

Sim, tu fez o melhor! Um filme dos olhos de uma mulher, sobre uma mulher, para todos.
Aguardo ansiosamente por "Somewhere". :)